País terá novas atrações, como o C6 Fest, além de eventos que se estabeleceram e até cresceram, como o Mita e o Rock the Mountain
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Billie Eilish, Duda Beat e Lana Del Rey são atrações de festivais esse ano AFP/Lucas Tavares/Divulgação
Desde 1985, o professor de Física Antonio Marcio Rennó, de 56 anos, sai de sua cidade natal, Itajubá, no Sul de Minas Gerais, para ir a festivais de música. Nunca perdeu uma edição do Rock in Rio ou do Lollapalooza no Brasil. No sábado, estará lá comemorando a décima edição do Lolla, que acontece neste fim de semana em São Paulo. No ano passado, esteve na capital paulista para a primeira edição do Mita e já garantiu um passe para a estreia do The Town, que acontece em setembro em Interlagos. Graças a aficionados por festivais como Antonio, as opções aumentam a cada ano no país, como confirmam produtores do segmento.
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— Desde o primeiro, fiquei encantado. O que me motiva mesmo em festival é a possibilidade de ver diferentes tribos se respeitando. Está na minha lista ir ainda ao João Rock e ao Rock the Mountain — conta o professor, que costuma ir aos eventos com os dois filhos e já fez loucuras como encarar um bate-volta de ônibus de Itajubá até a Cidade do Rock, no Rio, e suportar três dias com dente inflamado no Lollapalooza 2019.
Levando em conta eventos pagos com ao menos dez atrações musicais nacionais e/ou internacionais, o Brasil é palco este ano de pelo menos 40 opções de festival, sendo que sete já aconteceram. Em tese, são três a cada mês. Em 2023, novos nomes surgiram, como C6 Fest (em SP e RJ) e The Town (SP), enquanto outros se estabeleceram e estão indo para a segunda edição, como o Mita (SP e RJ). Alguns decidiram retornar ao país, como o Tomorrowland (SP). E outros cresceram, como o Rock the Mountain, em Itaipava (RJ): até 2019, durava um dia; agora, são quatro. E diversidade não falta. Há opções para quem prefere pop, rock, MPB, música instrumental, eletrônica, jazz internacional.
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O bom momento se reflete diretamente na economia do país. Para se ter uma ideia, o Rock in Rio em 2022 gerou um impacto econômico de R$ 2,2 bilhões na cidade, com 28 mil empregos diretos, e fomentou o turismo atraindo 410 mil visitantes nacionais e dez mil internacionais, segundo a organização. É difícil precisar o impacto exato dos festivais no Brasil como um todo, mas segundo a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), todo o setor soma 4,5% do PIB, gerando R$ 314,2 bilhões de faturamento anual.
Nem tudo são flores
Pedro Seiler, um dos idealizadores e curadores do Queremos Festival, que chega à quarta edição no Rio, concorda que o momento seja positivo, mas alerta que os próximos dois anos serão cruciais e de observação e adaptação do segmento de eventos. Ele diz que, economicamente falando, é difícil realizar shows de grande porte:
— Há um aumento de custos absurdos. Fornecedores aumentando preços 20% a 30% de um ano para outro. O dólar altíssimo. Ainda que o mercado de cultura seja um dos mais sólidos, no sentido de que as pessoas não vão parar de ir a show e de consumir música, acho que os próximos anos serão de adequação. Isso para entender se cabem tantos eventos desse porte no país, e avaliar o público de cada evento em termos de preço e estilo.
Com aumento da oferta de festivais, o público pode escolher onde melhor se encaixa. Cada marca busca fortalecer seu conceito de evento, que vai do line-up de artistas, passa pelo tamanho da área escolhida e chega até as atrações e experiências proporcionadas fora dos palcos.
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— Acredito que esse tipo de evento entrega mais para o público do que o show de um artista solo. Apesar de haver muitos, acho que tem espaço para todos, e o público está comparecendo — diz Luiz Guilherme Niemeyer, um dos idealizadores do Mita.
O advogado Augusto Coutinho é outro que leva a sério a experiência e o conceito dos festivais. Cansado de megaeventos, buscou opções. Foi ao Meca em Inhotim (MG) em 2017 e passou a procurar festivais similares em porte e line-up que priorizasse a música nacional. Para ele, a parte legal dos festivais é conhecer artistas novos. Duda Beat e Baco Exu do Blues foram dois que ele descobriu assim e gostou. Este ano, ele vai ao Rock the Mountain (RJ), MecaInhotim (MG), Coala (SP), Nômade (SP)e Guaiamum Treloso(SP).
— Reunir uma galera que está alinhada no mesmo propósito e a possibilidade de ver vários artistas e ainda conhecer lugares novos fazem valer a pena — diz Augusto, pontuando que tem sentido falta de variedade nos line-ups entre um festival e outro. — Ano passado, acabei vendo Caetano Veloso umas quatro vezes. Acho que, antigamente, esses eventos tinham a função de organizar movimentos artísticos, tinha um diálogo entre artistas. Sinto falta disso e de um espaço para novos artistas.
Ricardo Bräutigam, um dos idealizadores do Rock the Mountain, pontua que, diante da grande quantidade de festivais, os line-ups acabam, sim, se repetindo muito. Para ele, isso tem um efeito colateral e positivo, por torna mais desafiadora busca por diferenciais para cada evento, sendo necessário investir em experiências interessantes:
—Faz com que o público ganhe, porque você tem que pensar mais.
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Este ano, o Rock the Mountain inovou montando um line-up 100% feminino em todos os dias de festival. Marisa Monte — que já está confirmada também no Queremos e no Saravá — e Maria Bethânia marcarão presença.
—A gente já ouviu muitas vezes o mercado dizer que “mulher não vende ingresso”, então resolvemos propor essa reflexão de que dá para fazer, e o grande desafio foi escolher quem ia entrar e quem ia ficar de fora. E, daqui para a frente, vamos assumir o compromisso em sempre ter pelo menos 50% de atrações mulheres — diz Ricardo.
Para os artistas, a profusão de festivais, é claro, muito bem-vinda. Duda Beat, por exemplo, é uma presença constante em eventos assim, dos menores aos maiores, desde o início da carreira. Já tocou no Palco Sunset do Rock in Rio e, este ano, é presença confirmada no Mita.
— Festivais são sempre disputadíssimos, e entrar no line-up de um deles dá sempre um frio na barriga e é uma grande conquista. É um evento que serve como vitrine também para os artistas. Você está ali no palco e as pessoas acabam querendo saber mais sobre quem é você — diz a cantora pernambucana.
A jovem cantora baiana Rachel Reis também vem experimentando o gostinho que é ser presença em festivais. Ano passado, esteve em eventos como Coala, e este ano estará no Queremos e no Rock the Mountain:
—O festival acaba impulsionando muita gente porque te abre um leque de público. Eu comecei a rodar tem menos de um ano, então, a visibilidade é muito importante.
Com o objetivo de deixar mais visíveis novos talentos, o C6 Fest chega com a intenção de apresentar artistas que “inovam e levam a música adiante”, segundo Monique Gardenberg, sócia-fundadora da Dueto Produções, responsável pelo festival,que trará nomes como Samara Joy e Jon Batiste.
— Sentimos uma espécie de êxtase ao ouvir os artistas que escolhemos. E é esse êxtase que sempre buscamos dividir com o público brasileiro. O C6 Fest terá a essência e a alma do Free Jazz e do Tim Festival e conta, inclusive, com o mesmo time de curadores— diz.
Fonte: O Globo